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O Jornal A Gazeta entrevistou em março deste ano, João Pontual Falcão, atualmente secretário de ciências, cultura e turismo de Olinda/PE. Também é palestrante do seminário “Política 2.0: Partidos, políticos e gestão pública na era digital”,  Falcão avalia que a internet, ao abrir canais de comunicação, tem modificado a forma como as pessoas se relacionam socialmente e a política, como parte integrante desse conjunto de relações, também sofre influência das novas tecnologias.

Entusiasta do poder da internet como forma de participação social, Falcão entrou de cabeça no mundo da tecnologia desde que trabalhou no Porto Digital, reconhecido núcleo de desenvolvimento de software no nordeste do Brasil. Com 30 anos e mestrado em Harvard, dono de uma empresa criada para promover mobilizações sociais na rede.
Ele diz que o uso de novas mídias substituirá progressivamente as antigas formas de organização das campanhas, e que esses impactos já vão ser sentidos na eleição deste ano. Nesse post, reproduziremos a entrevista do jornal na integra, dando a visão de um entusiasta da Política2.0, um outro lado que deve ser abordado, já que foi postado outras discussões críticas sobre o assunto.


Gazeta: Como a internet vai impactar nas eleições no país?

João Pontual Falcão: Gosto de falar da internet como um canal de comunicação mais amplo. Aí você tem uma série de possibilidades: do e-mail às redes sociais. A internet é um grande guarda-chuva desse universo. É para aumentar a participação do cidadão no processo democrático nas suas diferentes formas, algumas já conhecidas e outras não conhecidas que vão surgindo ao longo do caminho. Antigamente, para você participar, aí considerando que o partido político como instituição que pensa o futuro do país, era indo em reuniões, sábado de manhã. O modelo era diferente. Hoje você tem a possibilidade de participar ativamente do processo democrático da sua casa, do seu quarto, e com seus amigos. Basta um computador e uma conexão para participar de um fórum que lhe interessa. Não precisar ir mais numa assembleia para ouvir falar de toda a conjuntura, para opinar sobre a saúde, por exemplo. Temos que fomentar para que os políticos e as instituições participem cada vez mais dessa iniciativa.
Gazeta: Esse modelo participativo foi considerado um exemplo na campanha de Barack Obama, nos Estados Unidos. Você acha que esse modelo pode ser utilizado no contexto das campanhas do Brasil?

JPF: Gosto de ver Obama como um paradigma, não necessariamente como um modelo, dado que está inserido num contexto completamente diferente do nosso e no cenário onde as questões políticas, sociais e culturais são diferentes das nossas. Os avanços tecnológicos são diferentes. O case Obama, certamente, faz com que a gente compreenda que não estamos numa época de mudança. Mas a gente está numa mudança de época. Obama terminou a eleição com 130 mil seguidores no Twitter. Isso não é nada hoje. Então, do ponto de vista tecnológico e ferramental, o case Obama está ultrapassado. Já é obsoleto nas suas especificidades de possibilidades. Não todo ele, mas muito dele. A rede social foi construída baseada no Facebook. Hoje, você tem o Ning, tido como a rede social mais adequada para o gerenciamento de comunidades. Obama não utilizou as potencialidades do Twitter que a gente conhece hoje. Obama foi, sim, uma quebra de paradigma para alertar a respeito desse nova possibilidade de construção de um processo eleitoral, mas não colocaria como um modelo.
Gazeta: O curioso é que o Obama admitiu, no ano passado, que não alimentava pessoalmente o seu Twitter. Hoje, muitos políticos aderem ao Twitter, mas as mensagens são atualizados por seus assessores. Isso quebra a relação que a pessoa tem com o político?

JPF: A ferramenta está aí e pode ser usada de forma a explorar todo o seu potencial ou ser usada pouco o seu potencial. Ela pode ser usada para o bem ou para o mal. Vai depender das pessoas que estão utilizando. O Twitter tem essa possibilidade de próprio punho, no caso um político, enviar as mensagens, que é o grande barato. Agora, em isso não sendo possível, ele agrega de qualquer forma, não na sua totalidade. Em relação ao Obama, ele não é uma cara tecnológico. A história dele é de mobilização social. Ele tem um amigo de faculdade e esse cara se enveredou no área da tecnologia. Foi ele quem sensibilizou Obama para usar as ferramentas. Caiu como uma luva, porque os princípios e valores que se prezam nas redes sociais são muitos próximos do que Obama está acostumado na relação horizontal de mobilização. A história dele está muito mais ligada à atuação presencial nos movimentos sociais e saber lidar com esse embate direto. Mais do que a gente ver Obama como um cara de tecnologia, a gente vê como um cara que soube lidar com os princípios das redes sociais.
Gazeta: Mas existe a chance de as campanhas usarem as ferramentas simplesmente para o ataque aos adversários e deixar de focar nas propostas?

JPF: Eu gosto de dedicar o tempo à construção do que à desconstrução. Muito mais à proposição do que ao embate. A tecnologia pode ser usada para qualquer coisa. Uma caneta é uma tecnologia: você pode anotar no papel coisas de sala de aula, de educação, ou pode anotar “mate fulaninho”. A caneta é culpada por isso? Não. É a pessoa que está por trás. O problema não é a tecnologia, e sim a forma de utilizar.
Gazeta: O que está por vir, além das ferramentas já conhecidas, como Twitter, Facebook e Orkut?

JPF: Existem duas ferramentas que têm chamado atenção: Foursquare e Chatroulette. São duas novidades. As pessoas estão ainda descobrindo o potencial. O Chatroulette é uma ferramenta de vídeo que você na sua casa, aparece alguém na tela e aí você pode conversar com essa pessoa ou passar para a próxima. Você conversa com pessoas do mundo inteiro. Essa ferramenta pode ser usada no nosso contexto. Já o Foursquare é uma rede social que faz uma ligação do seu perfil com perfis de pessoas que estejam com georeferenciamento próximo. Ela faz o link do Facebook e Orkut com a questão georeferencial.
Gazeta: Como fica essa participação das pessoas diante do quadro de exclusão digital no país?

JPF: Acho que a imprensa tradicional tem um papel fundamental. As lideranças do país também. Aí é contar com a consciência das pessoas de não só comentar essa utilização, mas também construir o bem. É um movimento que não tem volta. A eleição deste ano para presidente será a primeira decidida na internet ou a última decidida na televisão. Em 2014, acho que a internet já vai ser o elemento de comunicação para decidir. A televisão ainda é veículo muito forte e acho vai continuar sendo. Mas a gente ainda não consegue quantificar a relevância que a internet pode ter nesse processo.
Gazeta: Você trabalhou na campanha do deputado Fernando Gabeira à Prefeitura do Rio. Qual foi o diferencial no campo da internet?

JPF: Acho que o grande diferencial é a figura do político Gabeira, porque a internet estava à disposição para todos os outros políticos e continua à disposição. É um processo quase darwiniano: ou você se renova ou você vai ser uma espécie extinta. Gabeira se renovou politicamente naquelas eleições. Ele era o político que tinha mais idade e era percebido como o mais jovem. Ele correu o risco da internet, ao contrário de outros políticos. Gabeira foi muito feliz ao se colocar aberto às possibilidades da internet.
Gazeta: Quais são as vantagens de inserir essas possibilidades da internet na gestão pública?

JPF: A internet permite uma capacidade de diagnóstico dos problemas na ponta. Em vez de ficar fazendo somente pesquisas e levantando dados estatísticos, é interessante ouvir quem está na ponta. Você estabelecer canais de comunicação seja por e-mail, seja por rede social. Com esse canal, as pessoas que utilizam algum serviço público comentariam como melhorar, não só falando dos problemas, mas também propondo a solução. Há vários cases hoje na internet de pessoas, mais na iniciativa privada, que ajudaram empresas a ganhar milhões de dólares simplesmente dando a opiniões delas ou indicando na ponta onde estava o problema e o gargalo.
Gazeta; No campo corporativo, existem empresas com receio de abrir as redes sociais aos funcionários por conta da possibilidade de queda na produção, enquanto outras pensam de forma diferente. Como você vê?

JPF: Existem dois polos radicais. Um é o que diz que, quem está na internet, não está trabalhando. Eu me recuso a entrar nesse tipo de discussão. Mas há pessoas que veem que a liberação do Youtube e Orkut não seja apenas entretenimento do funcionário, mas que possa de fato gerar melhoria na qualidade do produto final da empresa. Eu gosto de conversar com essas pessoas que enxergam uma possível construção das redes sociais.

Mas existem situações de funcionários que criticam, no Twitter ou outra ferramenta, a empresa onde trabalha.
Gazeta: Você acha que a empresa deve entender ou é necessário limite?

JPF: Eu focaria na crítica em vez de focar no funcionário. A crítica procede? Ela é relevante? Se o funcionário está de má-fé, envolve outra questão. Aí manda para o Recursos Humanos. Agora, eu focaria no que ele está falando.
“Políticos precisam ser transparentes”

Diante das possibilidades das redes socias, João Pontual Falcão comenta que os políticos terão a oportunidade de ouvir o que as pessoas estão dizendo sobre seus projetos e seu modo de trabalho. Mas ele lembra: não adianta o futuro candidato aderir ao Twitter e se comportar com os velhos modelos de fazer política. Segundo o especialista, com esse novo ambiente, os políticos precisam ser transparentes para que as pessoas se disponham a consumir seu conteúdo. Ele afirma que tentar controlar ou mesmo empurrar conteúdo para o eleitor representa um grande pecado nessa construção da chamada Política 2.0. Pontual esteve em Vitória na última semana participando de seminário sobre o assunto. Organizado pela E-brand e pela Vieira e Rosenberg, o evento também contou com a presença de Bruno Ayres, que falou sobre o papel do voluntariado na internet e sua relação com a política, e o advogado e professor Pablo de Camargo Cerdeira, que abordou a legislação eleitoral.
Fonte: A Gazeta